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Vamos falar sobre Sofrimento

  • Foto do escritor: Carina Rodrigues Nave
    Carina Rodrigues Nave
  • 14 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Sofrer, o nosso eterno fado. Há alguém que não sofra? Que já não tenha sofrido, seja porque motivo for, em alguma circunstância da sua vida?


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Além de o sofrimento fazer inevitavelmente parte da experiência e vivência humana, pode haver situações, momentos ou fases da nossa vida em que, inconscientemente, prolongamos o nosso sofrimento no tempo. Existem uma série de mecanismos ou processos que “trabalham” a favor do sofrimento e que, por algum motivo, nos passam despercebidos ou não os sentimos como fatores de risco e de manutenção do nosso sofrimento emocional. Estes mecanismos estão relacionados com competências naturais do ser humano, como a atenção, a memória, a imaginação, o pensamento, o raciocínio e o comportamento, o que faz com que seja mais difícil para nós identificar como é que desenvolvemos estes processos para nos prejudicar, em vez de nos ajudar.


Então, mas que processos são estes?


Evitamentos: Quando damos por nós a evitar determinadas coisas que nos fazem sentir mal estamos, na verdade, a alimentar e prolongar esse mal-estar. Podemos estar a evitar pessoas, lugares, situações, pensamentos, sentimentos ou sensações e o problema nestes evitamentos está em que ao fazer isto, na verdade, estamos a focar a nossa atenção no que queremos evitar e, consequentemente, no alvo do nosso mal-estar.


Memória Seletiva: muitas vezes só nos recordamos de uma parte da história. Por exemplo, pessoas mais ansiosas tendem a recordar-se apenas dos aspetos ameaçadores de uma situação, pessoas mais deprimidas tendem a recordar-se apenas dos aspetos gerais da história e não conseguem recordar aspetos específicos. Estamos, por isso, a tomar decisões baseadas em apenas “partes” da história.


Atenção Seletiva: tal como na memória, podemos estar a reparar em apenas parte da situação. Por exemplo, se apenas repararmos nos nossos fracassos e ignorarmos os nossos sucessos, acabamos com uma visão de nós mesmos desajustada, que não corresponde a quem somos como um todo.


Pensamento enviesado: o nosso pensamento pode adquirir muitas formas desajustadas e enviesadas, que nos faze chegar a conclusões, elas próprias, desajustadas e enviesadas. É como se nós fossemos um juiz e tomássemos uma decisão sobre um caso apenas com base nas evidências apresentadas pela acusação. A nossa conclusão seria, obviamente, enviesada.


Ruminação e pensamento repetitivo: pensar repetidamente nos problemas e fazermos questões a nós próprios sobre a natureza e curso dos problemas provavelmente está a contribuir para manter o nosso sofrimento. Por vezes, estas perguntas que nos fazemos levam a respostas que em nada nos ajudam. Perguntar “porque é que isto me acontece” não vai ajudar a diminuir o mal-estar, até porque posso nem chegar a uma resposta. Podemos, em vez disso, questionar coisas como “o que é que eu posso fazer para melhorar a minha situação?”, que nos conduzam em direção à solução e a um plano de ação.


Reforços: é muito mais provável que voltemos a repetir um dado comportamento se este se tiver seguido de uma recompensa (como por exemplo, uma sensação, emoção ou sentimento positivo, do género alívio ou calma), mesmo que esse comportamento não seja bom a longo prazo. Se eu estiver aborrecida e comer uma pizza, provavelmente vou sentir-me bem no momento, embora isso prejudique a minha saúde a longo prazo. Como eu me senti bem ao fazer isto, a probabilidade de eu voltar a comer quando me sinto aborrecida, é muito maior.


Comportamentos de segurança: são coisas que fazemos que nos ajudam a evitar coisas que acreditamos ser negativas – do género, tenho medo de cães, por isso não vou passar naquela rua em que há um cão grande no quintal, mesmo que fique 1km mais perto do meu trabalho. Outra vez, ao estar a tentar encontrar alternativas que me protejam do alvo do meu mal-estar, estou na verdade a focar-me ainda mais nesse aspeto negativo e, por isso, a alimentar o sofrimento. Além disso, ao fugir da situação, estou a perder uma excelente oportunidade para aprender estratégias de coping que me permitam autogerir e minimizar o meu mal-estar.


Autocrítica: quando nos culpamos demasiado ou somos críticos exageradamente com o nosso comportamento, e sobre as coisas que “devíamos” ter feito ou que “somos” isto ou aquilo, estamos não só a focar a nossa atenção APENAS nos nossos aspetos negativos, como também a aumentar o sofrimento ao desenvolver a crença de que não somos capazes de lidar com as causas do nosso mal-estar.

Desafio-vos, hoje, a tentar perceber que coisas vos causam sofrimento e mal-estar e a identificar se e quais destes processos e mecanismos podem estar a desenvolver e a contribuir para prolongar o vosso sofrimento ao longo do tempo.

Já sabem, se quiserem podem partilhar comigo as vossas descobertas!

 
 
 

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