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Vamos falar sobre Incerteza

  • Foto do escritor: Carina Rodrigues Nave
    Carina Rodrigues Nave
  • 27 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura

A incerteza é uma parte normal da vida do ser humano. Afinal, nunca podes estar 100% certos do que irá acontecer a seguir. Muitos de nós conseguem sentir-se e lidar bem com a incerteza, aproveitando-a como combustível para se envolver em aventuras com entusiasmo!


Outros sentem a incerteza como algo muito aversivo, stressante, que lhes traz mal-estar e sofrimento. Estas pessoas, muito provavelmente, desenvolveram crenças negativas acerca da incerteza e do que esta implica e, por isso, tentam ao máximo evitá-la, recorrendo a estratégias desadequadas para tentar eliminá-la ou controlá-la. Portanto, podemos dizer que estas pessoas têm uma intolerância à incerteza.


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A intolerância à incerteza envolve uma tendência para reagir negativamente face à incerteza aos níveis emocional, cognitivo e comportamental. É como se estas pessoas tivessem fobia à incerteza, ou fossem “alérgicos” à incerteza! Portanto, a incerteza, a impossibilidade de saber o que vai acontecer a seguir, despoleta muita preocupação. A situação de saúde pública que vivemos atualmente pode, por isso, contribuir para aumentar a ansiedade, a preocupação e a incerteza. E como já vimos, para algumas pessoas isto pode ser algo bastante difícil de gerir…


Para tentar controlar o mal-estar e o sofrimento causado pela preocupação e pela incerteza própria da vida, estas pessoas irão adotar estratégias para gerir a incerteza que tendem a ser desadequadas. Por exemplo:


  • Evitam expor-se à novidade e seguem à risca os seus hábitos e rotinas: com este comportamento, conseguem o objetivo – sentir-se seguros e confortáveis; mas além disso, terão agora de gerir outras consequências associadas a este evitamento que, à partida, não esperavam – perdem autoconfiança por se sentirem menos capazes de fazer coisas novas e diferentes, e menos “prática” de coisas novas leva a mais ansiedade face a situações desconhecidas, perdem a oportunidade de fazer coisas que poderiam ser prazerosas e divertidas.

  • Preocupam-se, tentando antecipar o futuro: assim, estarão preparados para qualquer possibilidade, para tudo o que aconteça, ao mesmo tempo que estão a tentar prevenir que algo mau venha a acontecer – o que é ótimo, era exatamente isso que estas pessoas queriam; mas, mais uma vez, acompanhadas das consequências já esperadas, temos outras… cair no ciclo vicioso da preocupação faz-nos envolver numa teia “sem fim”, levando-nos a antecipar acontecimentos negativos que podem nunca vir a acontecer (ou seja, sofremos apenas por antecipação) ao mesmo tempo que estar a pensar sobre os possíveis “piores cenários” aumenta ainda mais a nossa ansiedade.


Mas… um grande MAS…. Há outras coisas, outras estratégias mais adequadas e adaptativas que quem tem dificuldade em lidar com a incerteza pode adotar para não se envolver neste ciclo de negatividade e sofrimento:


  • Aceitar que a incerteza faz parte da nossa vida: depois de aceitarmos que algo na nossa vida existe, está presente e não temos como fugir, deixa de valer a pena lutar contra isso, podendo até levar-nos a ser mais curiosos face a esse assunto;

  • Abraçar a incerteza: pode ser útil enfrentar os nossos medos e abraçar a incerteza e isso pode levar-nos a aprender como a gerir de forma saudável. Quem sabe não aprendamos até a usufruir dela!

  • Repensar a nossa atitude face à incerteza: afinal… o que seria da vida do ser humano se não existisse incerteza? Como seria para nós, como nos sentiríamos, se soubéssemos sempre exatamente o que iria acontecer em cada momento? Se nunca houvesse surpresas? Como seria ver um filme ou uma serie, ler um livro, sabendo de antemão o resultado? Pois é…


E agora, do que é que eu preciso para começar a colocar isto em prática? Deixo-vos algumas dicas:


  • Adotem um mindset em que considerem que é bom correr pequenos riscos e desafiar-nos um pouco mais;

  • Criem uma rotina onde faça parte sair da rotina! Experimentem coisas novas mais vezes;

  • Pratiquem MUITO, como se a tolerância da incerteza fosse um músculo;

  • Mantenham uma atitude curiosa e aberta e foquem-se nos resultados das vossas experiências e não nas experiências em si – tentem refletir sobre o que aprenderam, se a experiência foi divertida e desafiante, se se sentiram confiantes…


Lembrem-se, “quem não arrisca nada, não faz nada, não é nada, e torna-se nada. Com essa atitude, talvez evite sofrer, é certo, mas ao mesmo tempo simplesmente não consegue aprender, nem mudar, nem crescer, nem amar…acorrentada à sua certeza, essa pessoa é uma escrava! Abdicou da sua liberdade! Só quem arrisca é verdadeiramente livre”, pelas palavras de Leo Buscaglia.


Abraçar e aceitar a incerteza permite que apreciemos ainda mais a vida, permite-nos que consigamos responder às situações e desafios da nossa vida de uma forma mais flexível.

Como é que eu posso então começar, finalmente, a ser mais flexível face à incerteza? Com pequenas mudanças, pequenos desafios diariamente! Deixo-vos alguns exemplos:


  • Faz um caminho diferente até casa;

  • Quando fores ao teu restaurante favorito, pede algo diferente do que costumas pedir;

  • Vai a algum sítio que nunca tenhas ido na tua cidade;

  • Vai ao cinema e escolhe um filme sobre o qual ainda não tenhas lido ou sabido nada;

  • Lê um livro de um autor que desconheças;

  • Ouve um género de música que normalmente não ouvirias;

  • Veste uma peça de roupa que normalmente não vestirias;

  • Faz alguma atividade que tenhas vindo a evitar fazer até hoje;

  • Conversa com alguém sobre temas que não costumas falar (pode ser qualquer coisa, como política, opiniões sobre programas de TV, sobre ti mesmo… vale tudo!);

  • Senta-te para as refeições num lugar onde não costumes sentar-te;

  • Delega tarefas a outras pessoas;

  • Dorme do outro lado da cama;

  • Experimenta uma marca de pasta de dentes diferente;


Como todas as mudanças, esta também vai levar tempo e prática a alcançar! Mas não desistas, tenho a certeza que vais começar a senti-te muito mais livre! A tua vida vai deixar de ser vivida em função de uma procura de certeza e segurança. Vais deixar de te preocupar, de planear tudo a toda a hora, de confirmar e fazer double e triple check em tudo, de procurar reasseguramentos nos outros, vais poder libertar-te de hábitos e rotinas rígidas!


Em vez disso, vais poder começar a procurar ter experiências novas e desafiantes, vais poder ter um comportamento e uma atitude aberta, curiosa, espontânea e capaz de lidar e tolerar o desconforto (que, já sabemos, é passageiro).


Experimenta e conta-me como correu!

 
 
 

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