Vamos falar sobre Sensibilidade
- Carina Rodrigues Nave
- 9 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Alta sensibilidade de processamento sensorial. Que grande "palavrão".

Achava eu que era apenas uma pessoa sensível. Mais sensível que a maioria das outras pessoas que conheço. Ou pelo menos, sensível de outra forma... Não é que fosse muito "sensível", emocionalmente sensível (a chamada flor de estufa). Não, não é isso.
É a luz forte e o sol que me incomodam demasiado. É sentir com muita clareza cheiros que passam despercebidos aos outros. É reparar, apreciar e desfrutar da beleza das coisas mais simples. É sentir-me assoberbada pela azafama da vida, preferir ficar a conversar com os meus amigos porque a intensidade dos bares e discotecas me deixa ansiosa e impaciente. É sentir o sexo e o amor como um momento mágico, com um significado inigualável, transformado num momento intensamente profundo do qual é difícil separar-me e voltar ao "mundo real". É provar uma sobremesa diferente e ficar maravilhada com a intensidade do prazer que dali retiro, saboreando cada ingrediente como se fosse a última vez que o vou fazer. É ouvir a minha música preferida e reviver um momento feliz como se lá estivesse novamente. É arrepiar-me, por fora e por dentro, com o toque da seda. Sou sensível, assim, desta forma estranha.
Estranha, sim. Para mim parecia estranha. Até que descobri que afinal, há mais 20% da população mundial que é tão estranha quanto eu. Não somos muitos, mas somos uns quantos. Somos Pessoas Altamente Sensíveis, e somos assim porque o processamento que o nosso cérebro faz dos estímulos sensoriais é extremamente complexo e profundo. Mais do que o será na maioria das outras pessoas. Somos, por isso, mais sensíveis a estímulos mais subtis e somos mais capazes de identificar as subtilezas do ambiente à nossa volta, o que pode levar-nos a sentirmo-nos, por um lado, facilmente sobre-estimulados e, por outro, que vivemos uma vida interior mais rica e complexa. Temos reações emocionais mais fortes e uma suscetibilidade aumentada à sobre-estimulação perante estímulos demasiado fortes. Mais estimulação do que é desejável trará sentimentos de confusão e distress, não nos permitindo pensar claramente, descoordenando o corpo, descontrolando-nos.
Aron e Aron (1997), os autores pioneiros no estudo desta característica temperamental, descrevem as pessoas altamente sensíveis como mais resistentes à mudança, mas melhores a identificar e evitar erros, possuem maior conscienciosidade, são mais autorreflexivos e mais empáticos; têm um processamento inconsciente mais rápido (a que os autores chamaram de intuição); têm sonhos mais intensos e “reais”, caracterizados por uma alta sugestionabilidade; assustam-se com mais facilidade; e são mais afetados por substância como a cafeína ou medicação, bem como são mais sensíveis à dor.
Também têm uma capacidade de concentração mais profunda, que melhora ainda mais se não se cruzarem com distrações - talvez por isso sejam também especialmente bons em tarefas que exigem vigilância, precisão, velocidade e deteção de pequenas características diferenciadoras. Por vezes, pensam sobre o seu próprio pensamento, são capazes de aprender sem estarem totalmente conscientes de que aprenderam alguma coisa. Podem sentir-se extrema e profundamente afetados pelo humor e emoções das outras pessoas. Especialmente em situações em que estão a ser avaliados ou observados, podem ter dificuldades em demonstrar a sua verdadeira competência – o processamento profundo que os caracteriza pode fazer parecer que demoram demasiado tempo a assimilar a informação e não conseguem acompanhar o desenrolar das atividades/tarefas, mas com o tempo, revelarão que compreendem e recordam mais fácil e rapidamente do que as outras pessoas.
É importante, por tudo que isto, que as pessoas à nossa volta compreendam que até uma situação moderadamente estimulante e familiar para nós pode levar, no final do dia, a que necessitemos de procurar alguma calma e quietude.
Queridos leitores,
Se se identificam com esta descrição e, de alguma forma, se sentem incompreendidos e estranhos, como eu em tempos me senti, saibam que estou por aqui.
Disponível para vos ajudar a compreender esta característica que é inata, nasce connosco, e é parte da nossa personalidade, de quem nós somos!
Carinhosamente,
Carina
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