Vamos falar sobre Depressão
- Carina Rodrigues Nave
- 9 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Hoje venho falar-vos de depressão, de estar e de nos sentirmos deprimidos. Mais do que apenas tristes, do que é estar imerso numa visão de si próprio, do mundo e do futuro extremamente negativa.

Os nossos comportamentos são moldados pelo ambiente à nossa volta e aprendemos através das consequências dos nossos comportamentos. Portanto, reforços e punições influenciam o nosso comportamento. No entanto, é mais provável que façamos coisas que são recompensadas (através de reforços positivos).
Normalmente, as pessoas não deprimidas envolvem-se em atividades (da sua escolha – hobbies – ou não – trabalho) que incluem uma variedade de reforços positivos. Estes reforços podem ser tangíveis, como por exemplo uma remuneração monetária ou comida, ou podem ser não tangíveis, como por exemplo elogios, alcançar objetivos e metas, pertencer a um dado grupo social, entre outros.
No caso das pessoas deprimidas, os níveis de atividade e envolvimento encontram-se mais reduzidos que o normal, uma vez que estas pessoas estão a experienciar uma redução significativa dos comportamentos prazerosos e recompensadores. Esta diminuição, por sua vez, contribui para a manutenção do humor deprimido, que conduz a um isolamento social. Este, por sua vez, contribui também para a diminuição dos reforços positivos, gerando um sentimento de “estar preso na depressão”, neste ciclo vicioso.
Esta sensação de aprisionamento leva a sentimentos de desesperança que minam a capacidade para mudar o humor e o comportamento da pessoa, conduzindo a uma apatia, falta de motivação para as coisas mais simples da vida e do dia-a-dia, desesperança relativamente às diversas esferas da vida do individuo e a um evitamento do contacto social saudável.
A pessoa deprimida tem cognições (pensamentos e crenças) características que mantêm os seus comportamentos e humor deprimido. Essas cognições conduzem à formação de erros e vieses significativos – aquilo a que chamamos erros de processamento da informação. Tipicamente, estas pessoas recordam com mais facilidade as coisas más que lhe aconteceram e desvalorizam as boas, fazem mais julgamentos e predições negativas acerca do futuro, interpretam o mundo de formas mais negativas.
Aaron Beck desenvolveu um modelo explicativo que ajuda a compreender o fenómeno da depressão e como esta se desenvolver e instala no individuo:
EXPERIÊNCIA PRECOCE
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FORMAÇÃO DE CRENÇAS DISFUNCIONAIS
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INCIDENTES CRÍTICOS
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ATIVAÇÃO DAS CRENÇAS
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PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS NEGATIVOS –
PARA COM O PRÓPRIO, O MUNDO E O FUTURO
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SINTOMAS DE DEPRESSÃO
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COMPORTAMENTAL COGNITIVO MOTIVACIONAL AFETIVO FÍSICO
Este modelo explica-nos que perante uma experiência precoce (ou traumática) formamos crenças acerca da situação, de nós próprios ou do mundo que são desadequadas, disfuncionais e não correspondem à realidade. Ora perante um incidente crítico (situação que se assemelhe à experiência precoce ou desperte as mesmas sensações/emoções), as crenças disfuncionais criadas são agora ativadas, manifestando-se através de pensamento automáticos negativos (coisas que nos vêm à cabeça de forma incontrolável e indesejada) relativamente a nós próprios, ao mundo e ao futuro. Por sua vez, a presença constante e o caracter incontrolável destes pensamentos dá origem aos sintomas de depressão (consequências), como por exemplo o sentimento de vazio, de tristeza e angustia profunda, a perda de interesse em atividades que antes lhe davam prazer realizar, sentimentos de cansaço e vontade de não fazer nada, problemas de concentração e lapsos de memória, dores de cabeça, pensamentos suicidas,…
Se está a passar por uma fase depressiva e se identifica com estas características, pondere procurar ajuda profissional. Na psicoterapia a psique é trabalhada a favor da pessoa, procurando desenvolver habilidades e capacidades que o ajudem a enfrentar as adversidades no presente. Por isso, representa um processo de mudança, de solução dos problemas causados pela falta de adaptação frente às dificuldades da vida, de aprendizagem, de reflexão e mentalização.
Como é que a Psicoterapia pode ser útil?
• Ao partilhar um problema, a pessoa está a dividir a carga emocional e o sofrimento com o terapeuta, o que por sua vez ajuda a diminuir o mal-estar psicológico. Além disso, existe um racional teórico, um esquema conceptual, que prevê uma explicação plausível para o seu sofrimento e um procedimento interventivo para ajudar a ultrapassar o seu sofrimento.
• O vínculo estabelecido entre o terapeuta e a pessoa tem um poder “curativo”, construído numa relação autêntica e baseada na cooperação e respeito mútuo.
• Ajuda a pessoa a parar para refletir sobre a sua própria história, muitas vezes trazendo novas visões e perspetivas sobre os acontecimentos, tornando-se numa via para a mudança e para o autoconhecimento.
• O psicólogo/ psicoterapeuta, enquanto especialista, conhece as teorias psicológicas que ajudam na compreensão do que está a acontecer consigo, auxiliam a identificar o que está a correr mal e a encontrar um novo caminho mais adaptativo. Este especialista recorre também a técnicas e estratégias que tornam possível descobrir aspetos da sua história de vida e da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não treinada, podendo ajudar a compreender as suas dificuldades a partir do vínculo que estabelece com o psicólogo/ terapeuta, das respostas emocionais que nele suscita.
• Essa relação de vinculação autêntica e segura estabelecida entre si e o terapeuta atua como um catalisador de processos de mudança, permitindo a superação de traumas ocorridos em relacionamentos anteriores.
Invista em si, nunca é tarde para ser feliz!
Carinhosamente,
Carina
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